sábado, 5 de julho de 2008
Ele era um garoto diferente dos outros. Bem, talvez nem tanto, visto que de tão diferentes, todos são iguais, mas assim ele se sentia. Dentro de si, seu coração batia num compasso diferente do mundo, não havia sintonia, o que tornava sua existência uma estranha canção, sem letra e nem refrão, embora muitas vezes suas notas emperrassem num do-do-do re mi fa so. Na verdade, sua canção era tão estranha, que no meio de sua melodia, se assim pode-se chamar, apareciam bis, was, rf, dfth, às vezes até palavras inteiras acompanhadas (ou não) de seus sentidos, às vezes letrinhas embaralhadas, que não formavam sentido algum. Às vezes sua música era tocada em silêncio, na maior parte em sons. De qualquer maneira ele olhava o mundo como se viesse de fora, de algum lugar... indefinido, e ele gostava que fosse assim, esse mistério fazia tudo parecer bem menos enfadonho do que na verdade era. E era muito, muito enfadonho viver tentando entrar no compasso da vida, no compasso dos outros, então ele teivama em dançar no seu e às vezes, só as vezes, conseguia entoar belas canções.
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