sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ensaio sobre o sentimento indizível

Início aqui a tentativa frustrada não de explicar, mas de construir um anti-discurso sobre o amor, em palavras livres dos domínios sólidos dos significados, pois sentir é quase sempre impassível de sentido. Já dizia Barthes, amar o outro é percebê-lo como um todo, ora, aceitar o outro inteiramente é admitir que este é completo.

Ao mesmo tempo em que somos generosos ao amar o outro inteiramente, e ao fazê-lo transcendemos-nos a nós mesmos e diluímos-nos (como as pequenas moléculas que tudo compõem) para atingir uma universalidade e tornarmos-nos inteiros, somos contraditoriamente egoístas ao negar ao outro que algo lhe falta. Ao amar inteiramente, negamos a este sua individualidade, o amor beira a união dos opostos; a plenitude é invariavelmente excludente, fragmentável.

Em respeito ao sentimento indizível (que chamamos de amor) eu deveria calar, mas essa tentativa de falar é ainda uma equivoca, mas honesta maneira de atingir o silêncio esclarecedor. “O próprio do desejo só pode produzir um impróprio do enunciado.”[1]

(Não) É inútil falar de amor.


Trechos de um devaneio incompleto.

[1] BARTHES, Roland. fragmentos de um discurso amoroso. Página 12.

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